Conheci um líder que dizia “não levar desaforo para casa”.
Sempre cheio de razão e dizendo que tinha a última palavra e decisão, ele não admitia qualquer interferência, sugestão e muito menos uma palavra de correção ou advertência. Certa vez, diante de todos, ele bateu o punho fechado na mesa e declarou abertamente: “eu não admito isso!”. Depois, saiu sem olhar para trás, todo alterado e manifestando falta de domínio próprio.
Dias depois, fui conversar com ele, e ouvi por diversas vezes a mesma frase citada na reunião. Isso já aconteceu há muitos anos. E, conversando com pessoas que convivem atualmente com esse líder, fiquei sabendo que ele continua do mesmo jeito. Chamo esses líderes de “donos da razão”. Em todo o lugar encontraremos líderes assim.
Líderes “donos da razão” têm algumas características bem peculiares. Eles são
EGOCENTRICOS. O ego está acima da própria razão, e quando dizem que não admitem isso ou aquilo, na realidade estão deixando claro que nenhuma ideia ou fato pode ser maior do que sua própria ideia; caso contrário, seu ego será afetado. Como o próprio nome diz, o egocentrismo é a colocação do ego no centro de tudo. A pessoa egocêntrica se sente dona da razão porque seus pensamentos e posições se tornaram o centro de sua atenção, tudo mais está à margem e pode ser colocado como opção ou até inutilidade.
Outra característica dos líderes “donos da razão” é a IGNORÂNCIA. Ignorar os outros ou as ideias dos outros é algo comum no perfil desses líderes. Eles vão se tornando tão egocêntricos que passam a ignorar os outros de forma automática. Uma boa ideia pode ser compartilhada, mas eles sequer conseguem ouvi-la de tão presos que estão as suas próprias ideias. E por ignorarem tantas possibilidades, ideias e sugestões, acabam perdendo oportunidades maravilhosas de crescimento, inovação e mudança.
E o pior: essa ignorância gera outra ignorância, que é aquele tratamento incompatível com a fé e com a boa educação.
Em geral, líderes assim interrompem os outros enquanto ainda estão falando, são grosseiros e capazes de ferir o próximo simplesmente por achar que o discurso dos outros não vale absolutamente nada.
Líderes “donos da razão” se tornam, com o tempo, INEFICAZES. Seu rendimento diminui, sua adaptação às novas realidades é quase nula e seu poder de convencimento quase desaparece diante de tantas demandas novas a cada dia. Um líder assim acaba criando uma imagem negativa para seus liderados, pois em vez de promover neles uma sede por relevância, acaba gerando um sentimento de frustração pela repetição de técnicas antigas e já em desuso.
Como um “dono da razão” pode superar-se, passar a ‘levar desaforos para casa’ e ‘admitir uma série de coisas’? Ele deverá tratar exatamente das principais características que o fizeram ser esse tipo de líder. Em vez de egocentrismo, deverá cultivar SOCIABILIDADE e ALTRUÍSMO. Deverá ouvir mais, receber sugestões, aceitar os diferentes e, em muitos momentos, deixar que sua vontade fique um pouquinho de lado quando alguém tiver uma boa sugestão a ser acrescentada ou uma ideia digna de estar no centro e não na margem do
processo de liderança.
Em vez de ignorância, deverá olhar para os outros e considerá-los IMPORTANTES. Isso significa que cada feedback ou impressão deverá ser considerada como importante, louvável e digna de atenção. E, em vez de atravessar os outros com comentários egoístas ou mesmo deixar de ouvi-los em nome de qualquer sentimento de superioridade, deverá ser mais
amável, ainda que algumas ideias lhe pareçam tão ruins.
Somente assim sua ineficácia diminuirá e um sentido de EXCELÊNCIA será notado, tanto no desejo de melhorar como na abertura a novas técnicas ou algum tipo de inovação que melhore sensivelmente o rendimento de processos de liderança.
Em vez de “donos da razão”, deveremos ser “abertos à razão”. Se alguém tem uma boa ideia, vamos ouvir, e com isso melhorar nosso rendimento, aprendizado e descobrir formas mais excelentes de fazer as coisas, justificando, assim, nossa liderança.
Pr Guilherme Gimenez
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