Por Guilherme Gimenez
Ao deter um suspeito, o policial imediatamente o algema e, com isso, garante que grande parte de seus movimentos estarão sob controle. De certo modo, todos nós somos “algemados” – ou melhor, utilizando o provérbio popular, ficamos de “mãos atadas” – diante de algumas situações da vida. Queremos fazer algo, mas não podemos. E essa sensação é horrível, principalmente quando sabemos o que fazer, temos força para fazer, mas nos é impedido fazer. A sensação é realmente de estar com as mãos atadas, amarradas, acorrentadas…
Quando nos sentimos assim, começamos a perceber nossa finitude de uma maneira particular. Ter força, dinheiro, conhecimento e outros elementos não é suficiente para atingirmos nossos objetivos. Aí está nossa finitude: nem quando temos tudo podemos fazer tudo. Nem quando sabemos tudo podemos responder a todas as perguntas. Nem quando temos todo o dinheiro do mundo podemos comprar tudo o que quisermos. A nossa finitude, nesse sentido, se deve aos limites que a vida nos impõe diante da realidade do outro e de sua autonomia e liberdade. Queremos ajudar o outro, mas se ele não quiser ser ajudado, ficamos de “mãos atadas”. Queremos comprar determinado bem, mas se não nos derem a opção de compra, ficaremos de “mãos atadas”. Queremos implementar mudanças para o bem, mas se não tivermos a oportunidade de implementá-las, ficaremos de “mãos atadas”.
As “mãos atadas” refletem essa finitude de convivência, relacionamento e solidariedade da raça humana. Conhece a história de alguém que viu um familiar adoecer gravemente e morrer, mesmo tendo pago os tratamentos mais caros e tendo mais dinheiro para pagar por mais tantos outros tratamentos caso tivesse oportunidade? Esse é um bom exemplo. E, nessa mesma linha, estão os conselhos que não são recebidos, as ações que são ignoradas, o planejamento que é descartado e os gestos de amor que não podem ser dados. Nós dependemos que o outro aceite, receba, queira ou dê a chance.
O que fazer diante das “mãos atadas”? Três palavras me vêm à mente: respeito, paciência e fé. Respeito ao outro que não quer. Paciência, pois esse quadro pode mudar e, de repente, o outro nos deixará intervir. Fé de que a situação aparentemente insolúvel mudará, o problema será resolvido e tudo acabará bem. E, nesse último item, podemos destacar que, em algumas situações, mesmo de “mãos atadas”, veremos o problema ser resolvido, sem nossa intervenção. Às vezes, nos surpreenderemos como outras pessoas terão a liberdade ou oportunidade que nós não tivemos de ajudar ou, então, como uma situação acabou por resolver-se de forma muito melhor do que se tivéssemos intervido.
O respeito, a paciência e a fé não são muito fáceis. Mas uma coisa é certa: sem eles, perderemos a cabeça, cairemos em desespero ou depressão, e o pior: ainda assim, não poderemos resolver o problema. Ainda sobre a importância da fé, se as mãos estão atadas, mas os joelhos estão livres, então aproveite para dobrá-los e orar. Esse tem sido meu exercício constante quando minhas mãos estão atadas.
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São Paulo, 27/02/2019