Por Guilherme de Amorim Ávilla Gimenez
Acabo de saber que mais um jovem se suicidou aos 32 anos. Do meu círculo de convivência esse é o segundo em uma semana, número alarmante em minha opinião. Nos dois casos a causa provável foi a depressão. Fui ler a respeito e me deparei com um artigo interessante do psicanalista Eduardo Silva onde sem rodeios ele diz que a depressão está ligada à época, ao nosso tempo. Ele defende sua ideia mostrando alguns fatores vinculados ao tipo de sofrimento emocional em determinada geração. Diz ele que “hoje não sofremos como há cem anos, por exemplo, a realidade, os problemas e preocupações eram outras. Nesse momento em que alguns chamam de pós-modernidade, hipermodernidade, modernidade líquida etc., vivemos uma realidade que nos afeta a todos, mas de forma singular” (Site Gospel Mais. Acessado em 03 de junho de 2019). Acredito que de fato os sentimentos são afetados pela época em que vivemos. Se fosse resumir a principal marca de nossa época diria que é o egoísmo que aparece nas suas mais diversas formas como narcisismo, individualismo, orgulho, vaidade e por aí vai. A grande maioria dos sentimentos que acabam se transformando em depressão partem de pessoas que só pensam em si mesmas e quando sua autoimagem é de alguma forma afetada, elas não suportam a pressão e se não forem bem assessoradas podem realmente cometer atos que colocam em risco a própria vida. José Roberto Marques, articulista do Portal IBC, fala de uma geração fraca emocionalmente, que se abala facilmente e não consegue se manter firme diante de situações comuns dos relacionamentos humanos como uma opinião diferente ou crítica (Site do IBC Coaching. Acessado em 05 de junho de 2019). Percebemos isso com facilidade quando alguém perde o controle simplesmente porque sua ideia não foi reconhecida como “a melhor de todas” ou porque não recebeu um elogio suficiente forte, principalmente nas redes sociais. Aliás, alguns casos de suicídio estão associados diretamente ao Facebook, Twitter e Instagram. Ter a imagem de alguma forma negativada pode se transformar em um sofrimento capaz de levar alguém à depressão. Se for um sentimento de época, irá passar. Porém não sabemos quando. E até que passe precisamos mais do que nunca investir em fortalecimento emocional de nossos jovens e adolescentes – sem esquecer dos adultos que acabam vivenciando os mesmos sentimentos. Necessitamos valorizar mais a convivência real, desconstruindo a importância tão grande que tem se dado às redes sociais. E para isso será necessário incentivar a conversa olho no olho, a roda de amigos, o passeio de mãos dadas, o sentar-se no sofá e com o calor da companhia de alguém ao lado aquecer-se nesses dias frios. Depressão invoca companhia real, gente de verdade ao lado e o som da voz vinda não de um alto falante, mas sim de uma boca próxima. Talvez a solidariedade de outra época, quando não éramos tão egoístas, pois dependíamos mais dos outros, seja necessária a essa época. E a discrição do passado – quando não havia redes sociais, nem transmissão ao vivo, selfie e outras manifestações pós-modernas de exibicionismo – nos deixe um pouco mais leves, despreocupados com a opinião alheia e seguros de quem somos não por likes ou número de amigos virtuais, mas sim pelo valor inerente que temos simplesmente por existirmos.
São Paulo, junho de 2019
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