GRATIDÃO E SAUDADES

Mamãe ainda jovem

22 de janeiro de 2023. 11:00 horas da noite. A notícia que nunca queremos receber chegou. Mamãe havia falecido.
Foi tão inesperado, tão rápido, tão doloroso. Notícia dada por meu pai, nos braços de quem ela partiu para a eternidade.
Aos 79 anos de vida mamãe se encontrou com o seu salvador, Jesus Cristo, a quem lhe entregara a vida ainda moça e a quem servira por décadas com amor e dedicação. Foi ela a primeira da família a conhecer Jesus Cristo e através de seu testemunho toda a família Amorim se rendeu a Ele.
Casada com João tiveram apenas um filho, eu! Nessas hora eu queria ter irmãos, para tentar repartir a dor que, diferente de todas as outras, machuca de uma forma única. Como se diz, perder a mãe é perder um pouquinho de si mesmo. Assim me sinto, como se tivessem arrancado alguma coisa de mim.
Aos 17 anos de idade saí de casa e nunca mais voltei. Me acostumei com a distância, penso que não me acostumarei com a saudade de mamãe.
A viagem de Florianópolis para São Paulo durante a madrugada foi longa e cheia de lembranças. Tentava não pensar no óbvio: teria que ver mamãe sem vida e sentir seu corpo frio e imóvel. E quando isso aconteceu me senti fraco, impotente, indefeso. Se encher de forças para abraçar papai foi muito mais obra divina do que meu talento ou preparação durante anos de ajuda a famílias enlatadas. O desejo era chorar como criança e não segurar firme no braço daquele que depois de décadas de convivência se despedia também de sua amada.
Sou grato a Deus pelo tempo de vida dado a mamãe. Claro que gostaria de tê-la ao meu lado mais tempo, mas quem aprendeu a andar com Jesus sabe que Ele sempre faz o melhor, ainda que não concordemos.
Esse final de ano foi uma despedida. A família inteira em Curitiba. Como mamãe estava feliz. Nem parecia doente. Caminhou, brincou, conversou bastante. Sua apetite, perdida já há algum tempo, parece que tinha retornado. Não sabia que aquele abraço antes de entrar no carro seria o último. Também não sabia que aquela conversa ao telefone no fatídico dia de sua morte seria a última.
Sou grato por não saber e viver os últimos dias com mamãe sobressaltado com sua morte iminente. Nossos últimos momentos foram naturais, do jeito como devem ser os relacionamentos.
Os prognósticos de futuro não eram dos melhores para mamãe, afinal o Mal de Alzheimer é cruel em vários aspectos. Até seu último suspiro ela sabia exatamente quem eram os seus amados e os amou chamando-os pelo nome. O que não podíamos prever é que silenciosamente um outro mal estava crescendo e exatamente naquele domingo causaria a parada de seu coração. Foi uma surpresa saber que “hiperglicemia” foi o grande motivador de todo o mal estar que a levou até o hospital de onde sairia sem vida.
Gratidão e saudade. Dois sentimentos que conseguem conviver bem diante da dura notícia. Não sei se a gratidão é maior do que a saudade, o que sei é que hoje só posso dizer que meu coração é grato a meu Deus por ter-me dado mamãe e que esse mesmo Deus é quem está fortalecendo uma família que cheia de saudades segue firme na certeza de que chegará o dia, ao nos encontrarmos na eternidade, quando só sobrará um sentimento: a gratidão.

26 de janeiro de 2023
Guilherme

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