IDEOLOGIA X IDOLATRIA

O que é, afinal, uma ideologia? Quero deixar claro desde já que vejo as ideologias como tipos modernos do fenômeno perene da idolatria, trazendo em seu bojo suas próprias teorias sobre o pecado e a redenção […] Como as idolatrias bíblicas, cada ideologia se fundamenta no ato de isolar um elemento da totalidade criada, elevando-o acima do resto da criação e fazendo com que esta orbite em torno desse elemento e o sirva. A ideologia também se fundamenta no pressuposto de que esse ídolo tem a capacidade de nos salvar de um mal real ou imaginário que há no mundo (David T. Koyzis. Visões e Ilusões Políticas…)

“Descrição interessantíssima de como o processo de constituição de um ídolo pode ser elucidativo para compreendermos como surgem nossas ideologias. Pense nas idolatrias bíblicas. Como é que a adoração à deusa Astarte ou Astarote surgiu? Os fenícios elegeram um elemento da boa realidade criada por Deus—a saber, a fertilidade, ou mesmo a sexualidade—como aquele que controlaria todos os processos da sociedade em que viviam. Astarte, filha de Baal, era a principal deusa dos fenícios porque era a deusa da fertilidade, da sexualidade, da guerra e, por sua personificação, carregava os aspectos da realidade mais importantes para aquela cultura. Evidentemente, isolaram esse elemento dos outros e disseram “este é o nosso deus, que legisla sobre todos os outros aspectos da realidade”. Além disso, qualquer outra entidade que queira usurpar seu lugar será julgada como um agente do mal ao qual temos de resistir. É assim que as idolatrias funcionam e é assim também que funcionam as ideologias políticas. Quando um idólatra político, ou um ideólogo, recorta (abstrai) do campo social um aspecto dessa trama e o transforma no principal elemento avaliador de todos os demais aspectos da realidade—dizendo que todo o resto tem menos valor ou está em oposição ao verdadeiro desenvolvimento que uma sociedade pode alcançar—ele gera uma ideologia política. Por exemplo, quando alguma expressão dos socialismos elege para si uma parte da realidade criada por Deus—que é a sociedade ou as atividades comunitárias—e diz que esse é o fim supremo de todos os esforços não só políticos, mas da existência temporal humana, estamos diante de uma formulação perfeita de idolatria política em forma ideológica. Não é de assustar que, para a ideologia socialista, a iniciativa privada seja um grande mal social a ser combatido—pois qualquer entidade ou dinâmica social que ameace a estabilidade do ídolo deve ser combatida.”

Extraído de: Identidade e sexualidade: Reformando nossa visão de conceitos fundamentais de Pedro Dulci)

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